segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Divagações Artísticas/Aspectos essenciais da instituição kula


Por:Mario Jaymowich | bandazazu@yahoo.com.br    


O kula é uma forma de comércio entre sociedades tribais praticada em um extenso largo de ilhas, tomamos como exemplo o circuito fechado da Nova Guiné, seguindo dois circuitos os “longos colares de conchas vermelhas” os “soulava” segue em sentido horário, e no sentido oposto os “braceletes de conchas brancas” os “mwaii”, regidos por um conjunto de regras estabelecidas pelos comerciantes muitas vezes ligados a rituais mágicos e cerimônias publicas.

A troca cerimonial dos artigos se da pela coletividade ninguém permanece com o artigo ele sempre é trocado entre os indivíduos participantes do kula, “uma vez kula sempre kula” a fidelidade entre os participantes abre um leque de possibilidades para outros câmbios e assim acaba por expandir o comercio e as relações entre estes nativos, tornando o kula uma instituição complexa, mas não compreendida por seus participantes como uma instituição de “intercambio cultural”, é papel do etnógrafo relacionar todos os detalhes observados a parti das atividades cotidianas e construir um panorama da instituição na perspectiva dos nativos.

O kula se relaciona com a “troca de bens e riquezas” constituindo uma instituição econômica do modo de vida primitivo, o kula se contradiz a outras formas de comercio primitivo no aspecto religioso, no kula existe uma tradição e todo um simbolismo religioso para justificar as trocas, com uma sistematicidade de datas, locais e deveres mútuos, na maioria das vezes o objeto de escambo aparentemente não tem nenhuma função pratica, mas é impressionante o quanto é intrínseco a troca desses artigos.Tanto os braceletes quanto os colares são muitos cobiçados entre os povos da costa da Nova Guiné, usados como ornamentos na maioria das vezes em festa ou comemorações importantes, com ou sem cunho religioso estes objetos são usado com freqüência entre os adeptos ou não da instituição kula, as jóias se diferenciam por representação e valor, se tornando as vezes uma raridade.

Objetos têm forte representação simbólica nas mais diversas culturas, por seu valor histórico, sentimental, social, etc. independente da sua estética para os padrões atuais, a diferença se da que na sociedade kula porque os bens são transitórios enquanto os tesouros europeus devem ser imortalizados pra ter valor integral. 

Existe vários fatores que interferem nessas relações de troca um deles social, a “sociologia da troca” estipula com quem e com quantos parceiros o nativo deve estabelecer suas trocas, este fato é determinado por sua posição social, escolha religiosa, afinidade, tradição, hereditariedade, etc. estabelecendo uma relação de confiabilidade e de fidelidade nas relações comerciais, existe também o parceiro “ultramarino”, com quem se tem um cuidado especial por ser desconhecido e pouco confiável, geralmente a relação com este parceiro é mais estreita se limitando a simples troca sem que haja uma relação de amizade entre ambos.
O kula constitui portanto um instituição que estabelece trocas em várias camadas da sociedade, trocando não só artigos de ordem material, mas também culturas, crenças, culinária, economia, e vários outros aspectos que costituem a vida em sociedade, oque faz do kula uma grande e rica instituição de comercio “intertribal”.

Existe também o comercio secundário que possibilita ao participante do kula entrar em contato com uma outra cultura e estabelecer uma troca mais direta com o participante “ultramarino”, um aspecto importante nestas expedições é a construção das canoas para navegação em busca de novos parceiros, existe um procedimento ritualístico e metodológico que justifica a saída em busca de novos escambos, existe sempre uma cerimônia mítica ou social que reúne a tribo para conhecimento do grupo e a espiritualização para saída e o retorno com novas descobertas.

As relações comerciais estabelecidas por essas tribos têm importância fundamental na formação social de determinada tribo, o kula estreitou as relações entre esses povos e contribui para o conhecimento e o desenvolvimento de novas culturas através do viés mítico e da representação simbólica que existiu neste processo de relação cambial. 


*Os textos publicados no DIÁRIO RBC são de responsabilidade de seus autores.