segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Divagações Artísticas/Marujos, caboclinhos e catopês: celebrando o congado em Montes Claros


Montes Claros possui grande diversidade de manifestações culturais que têm a música como um dos principais meios de expressão. Nesta cidade, encontramos as Folias de Reis, que têm atualmente trinta grupos registrados, o que representa um número significativo para um município que possui cerca de 320.000 habitantes. Outra importante manifestação musical dessa cidade são os grupos de Seresta. Atualmente, a cidade possui cerca de dez grupos, sendo que alguns deles chegaram a alcançar projeção nacional — como a Seresta João Chaves, com mais de 30 anos de existência — ganhando concursos e participando de diversos festivais até a década de 1980. 

Montes Claros possui ainda artistas locais que obtiveram fama pela sua música tipicamente regional, podendo ser mencionados, entre outros, os violeiros Zé Côco do Riachão – que chegou a ser apelidado de Beethovem do sertão – e Tião Carreiro, e os compositores Godofredo Guedes  e João Chaves – que compuseram principalmente modinhas, toadas, marchas e choros. Dentre essas diversas e significativas manifestações, destacam-se nesta cidade os grupos de Congado que, entre os meses de maio e agosto, desfilam pelas ruas visitando casas e igrejas, devotando sua fé e suas crenças no poder divino. Em Montes Claros, o Congado é constituído por três guardas: Catopês, Marujos e Caboclinhos. Guardas que, atualmente, se subdividem em três ternos de Catopês, dois ternos de Marujos e um terno de Caboclos. 

Os Marujos usam vestimentas com as cores azul e vermelho – o azul representando os cristãos e o vermelho representando os mouros. O capitão do terno vem à frente, com sua espada, conduzindo o cortejo; os Marujos trazem expressa, em sua arte, a fusão de várias tradições portuguesas, encenando grandes feitos náuticos e a vitória do catolicismo sobre os muçulmanos. Na sua música, a alegria e a tristeza sempre estão lado a lado, dividindo os versos, acompanhados por pandeiros, comuns às guardas de Congado de Montes Claros, e por cavaquinhos, violões e violas de 12 cordas. 

Os Caboclinhos retratam a figura do índio brasileiro, associado à Confraria de Nossa Senhora do Rosário. Seus trajes simbolizam as vestimentas indígenas, com enfeites de penas acopladas às roupas vermelhas. Os integrantes conduzem pequenos arcos e flechas que completam a caracterização. 

As flechas, quando arremessadas, não se livram, devido a um ressalto que as mantêm presas no arco e, por entrechoque, funcionam como marcador rítmico ajudando a compor a sonoridade do grupo. Seus instrumentos são pandeiros de pele de couro – construídos artesanalmente –, violas e uma rabeca, tocada pelo mestre Joaquim Poló.

Os Catopês apresentam variações em suas vestimentas, principalmente nas cores, que costumam estar relacionadas àquelas predominantes na bandeira do santo de devoção do terno. Em Montes Claros, os dois ternos de Nossa Senhora do Rosário utilizam camisas e calças brancas, e o terno de São Benedito utiliza, predominantemente, a cor rosa. Os integrantes dos três ternos usam na cabeça o que eles chamam de “capacete”, adereço com fitas coloridas e/ou penas – variando de acordo com o terno. Os Catopês usam somente instrumentos de percussão: caixa, chama, tamborim, pandeiro e chocalho.

Das manifestações encontradas em Montes Claros, o Congado é uma das que têm apresentado, atualmente, maior expressividade. Estes grupos, mesmo em menor número que as folias, por exemplo, têm demonstrado grande respaldo junto à comunidade em geral, à imprensa e às instituições, governamentais ou não, da região. 







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