quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Diversos/Ideias ruins na cabeça

Por:Claudemir Ferreira / claudemirjoseferreira@yahoo.com.br

claudemirletras.blogspot.com


      Certas situações fazem com que eu me sinta  como Robert de Niro no filme Taxi Driver, fico com ideias  ruins  na cabeça. O nosso trânsito por exemplo é  uma  verdadeira maldição  capaz de deixar qualquer um de cabelo em pé, e pra  piorar  ainda mais, circulam entre nós, os  assassinos disfarçados  de motoristas. Estava eu pela temida BR 381, sentido Belo Horizonte-Betim, a 100k/h em minha moto. A carreta de  minério  vem  pela  marginal  e entra de uma vez. Se eu seguisse  em  frente, ia  parar  por debaixo das rodas dela. Se jogasse para  a  esquerda  seria pego   pelo  carro  que  vinha  a   uns  300k/h  na  mão  da esquerda.  A   minha  sorte  é  que  o   motorista  que  vinha  atrás  de   mim  parecia  ter adivinhado a situação, então ele diminuiu, o que possibilitou que eu também diminuísse e freasse. Por pouco não bati na lateral  da  caçamba. Eu   buzinei, pisquei  o  farol para chamar  a atenção do cretino que estava ao volante, e ele sutilmente me  mostrou  o  dedo. Aquele dedo. Ele tem sorte que eu sou pacifico e tolerante, ás vezes até demais. O pior  é que é justamente a nossa tolerância que alimenta  certas  imprudências. Essa  é  uma  situação que me deixa com ideias ruins na cabeça. Aquele sujeito iria me matar. Se era ou não a sua    intenção é outra história. Se  ele  fosse  um  condutor consciente, daria seta, esperaria eu e os  demais  veículos  passarem. Mas   ele  preferiu fazer de seu veículo uma arma, e ameaçar nossa integridade física. É até uma forma de intimidação.  É o mesmo que dizer “Eu sou maior que você, então chega pra lá, porque aqui quem manda sou eu.” Infelizmente é assim. No nosso trânsito manda quem  tem  o veículo maior. Parece até projeção da metáfora fálica. Esses malditos só podem ter pinto pequeno pra agirem assim. Querem compensar algo.                                                                                                                                        
Uma outra situação ocorreu próximo á Divinópolis, na  MG 430,  pista  de  mão dupla. Vinha eu tranquilo em minha mão, descendo  uma imensa reta. Na   mão  oposta vinha uma carreta carregada  de  sabe-se lá o que. A carreta  que   vinha   atrás  dela decidiu então ultrapassá-la. Para isso ela teria que atravessar  a  faixa   e  invadir  a  minha  mão. Tudo  bem, ela  estava  distante  de  mim. Mas  o  problema  é  que  ela   não  conseguia ultrapassar  a  outra  carreta, mas  também  não  reduzia  e  voltava   para  sua  mão. Ela simplesmente vinha em minha direção. Eu buzinei, pisquei farol, e ela continuava vindo em minha direção. Tive que jogar para o acostamento e parar, para não  topar  de frente. Se eu estivesse de carro, não teria como  me  desviar  pelo  acostamento  que  era  muito estreito. Isso é ou não é uma   conduta  de risco? Ele  literalmente assumiu  o  risco  e  a possibilidade de me matar. É isso mesmo amigo. Ele assumiu o risco  e a  possibilidade de me matar. Estas são as  palavras  certas  sem  nenhuma  dúvida.  Ele invadiu a minha mão, o veículo  dele  era grande e o meu era pequeno, e eu estava descendo uma reta. Não ia sobrar nada de mim. É nessas horas que me dá vontade de ser Travis Bickle, e dizer em alto e bom som: “ É o seguinte seus merdas, seus babacas,  tá aqui um homem que não vai  aturar  mais, que não vai deixar. Tá  aqui  alguém  que  reagiu. Tá aqui.” Me deu vontade de ir atrás dele tirar satisfação, mas preferi  relevar  e seguir  em frente, a pressa de chegar em casa falou mais alto. Eu poderia também anotar a placa e dar queixa com a transportadora ou com a polícia rodoviária sei lá. Mas a situação  foi tão surreal que nem me lembrei disso. Eu simplesmente  fiquei ali parado, respirando fundo.                                                                            
           Pra  mim   alguns  condutores  são  simplesmente  assassinos   disfarçados    de motoristas. Algumas situações não dá pra dizer que  são  acidentais, pois  o    indivíduo sabe do risco, e não o evita, e no pior dos casos o provoca, atentando contra a   vida de outras   pessoas. Idosos,  casais,  pais   e  mães, filhos  e  filhas, crianças  e adolescentes, mortos ou feridos pela  estupidez  e   imprudência   de   uns  poucos. Cá  entre  nós, é   ou   não   é revoltante? Que o trânsito é caótico todo mundo sabe. Que  acidentes  acontecem  todos nós   sabemos. Mas  literalmente  atentar  contra  a  vida de outra  pessoa  é  uma   coisa completamente diferente. Essas coisas   me  deixam com  ideias  ruins  na  cabeça.  Pra minha sorte, ou para a sorte deles, existe a arte. Sendo assim, eu posso sublimar a minha vontade de ser Travis Bickle.


*Os textos publicados no DIÁRIO RBC são de responsabilidade de seus autores.