Por:Claudemir Ferreira / claudemirjoseferreira@yahoo.com.br
claudemirletras.blogspot.com
Da obra de Hans Cristian Andersen
_Olha, soldadinhos de chumbo! Esta foi a primeira coisa que ouviram quando a caixa em que estavam foi aberta. Eram vinte e cinco soldadinhos de chumbo, iguaizinhos, feitos na mesma forma. Mas um deles se diferenciava, pois só tinha uma perna. Ele foi o último a ser feito, e faltou chumbo para encher a forma. Mas ele se equilibrava melhor em sua única perna do que os outros em suas duas.
O soldadinho de chumbo sentia-se feliz por estar fora da caixa, e começou a observar os outros brinquedos a sua volta. Ficou encantado com um castelo de cartolina, que na sua entrada havia uma dançarina em um vestido de fivela azul. O soldadinho não conseguia deixar de olhar para ela, que respondia com o mesmo olhar de admiração. Mas o feiticeiro negro se sentiu incomodado e disse para ele olhar para outro lado. O soldadinho não obedeceu e o feiticeiro disse que ele iria pagar por isso.
Á noite, os soldados foram postos novamente na caixa. No dia seguinte, quando foram retirados e colocados sobre a janela, um vento forte soprou e o soldadinho caiu no quintal. “Foi o feiticeiro”, pensou ele. A chuva começou a cair fortemente, e o soldadinho agarrou-se a um barquinho de papel que era levado pelas fortes correntezas. Quantos perigos ele enfrentava, mas permanecia firme com a espingarda ao ombro. O barquinho de papel entrou em um cano escuro, onde havia um rato enorme que o perseguiu. Mas o valente soldado conseguiu escapar. Viu uma claridade á sua frente, e por um instante pensou estar seguro. Foi quando ouviu um barulho capaz de amedrontar o mais corajoso soldado. Era uma enorme queda d’água que se aproximava cada vez mais. O barquinho caiu, e o soldadinho permanecia confiante com sua espingarda ao ombro. Mas a água começou a encher o barquinho que logo naufragaria. A água já estava no pescoço de nosso herói, e ele teve medo de não ver a gentil bailarina novamente. O papel úmido do barquinho se rompeu, e o corajoso soldadinho afundou. Foi quando um peixe o devorou. Passou dias assim, no escuro e com medo. Mas de repente, ele viu a luz do dia. O peixe havia sido pescado e uma cozinheira o abriu. Ela se assustou quando se deparou com o soldadinho de chumbo. Pegou ele e o pôs em cima da janela. A novidade se espalhou pela casa. Todos os moradores, e todos os brinquedos queriam admirar o valente soldado que havia viajado na barriga de um peixe.
Quantas coisas extraordinárias acontecem nesse mundo, pois o soldadinho achava-se sobre a mesma janela de onde havia caído. Reconheceu o ambiente, os brinquedos e a adorável dançarina que o olhava. Ele ficou comovido, e teve vontade de derramar lágrimas de chumbo. Mas o vento soprou novamente, e o soldadinho caiu em um fogo que ardia fora da casa. “Novamente o feiticeiro” , pensou consigo. Ele sentia-se derreter, mas permanecia olhando para sua amada dançarina, que ao ver tal cena, custou se conter. Uma porta se abriu abruptamente, provocando um forte vento, que fez com que a leve bailarina voasse e caísse de braços abertos sobre seu valente soldadinho de chumbo.
No dia seguinte, no meio das cinzas do fogo havia um coração de chumbo, e sobre ele uma fivela azul.